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quinta-feira, 27 de junho de 2013

Fichamento. Aluna: Sandra Pereira. Disciplina: Memória e Identidade. Mestrado em Patrimônio Custural e Sociedade, turma VI, Univille. Profas: Ilanil Coelho e Raquel A. S. Venera.

Texto: CANCLINI, Nestor. Diferentes, desiguais e desconectados. UFRJ: Rio de Janeiro, 2005. Cap. 1.

Néstor García Canclini (La PlataArgentina1939) é um antropólogo argentino contemporâneo.
O foco de seu trabalho é a pós-modernidade e a cultura a partir de ponto de vista latino-americano. É considerado um dos maiores investigadores em comunicação, cultura e sociologia da América Latina.
Estudou Filosofia e concluiu o doutorado em 1975 na Universidade Nacional da Prata. Três anos depois, concluiu o doutorado na Universidade de Paris.
Atuou como docente nas universidades da Prata (1966-1975) e Buenos Aires (1974-1975).
Foi também professor nas universidades de StanfordAustinBarcelona e São Paulo.
É professor desde 1990 da Universidad Autónoma Metropolitana no México, onde está radicado
Um de seus livros lançados no Brasil com o título Culturas Híbridas: Estratégias para Entrar e Sair da Modernidade abriu uma nova linha para estudos culturais no continente.
Outro deles, Consumidores e Cidadãos(1995), propôs a politização do consumo e rompeu a forma tradicional de analisar hábitos televisivos.
É autor de estudos culturais interdisciplinares, ou seja, a cultura ou as culturas, bem como as suas interações, convergências e choques.
Estudioso da globalização e das mudanças culturais na América Latina, seu trabalho é marcado pela análise e as mesclas entre culturas, etnias, referências midiáticas, populares e tradicionais.
Recebeu o título de pesquisador emérito do Sistema Nacional de Pesquisadores do México.
Uma de suas obras, Culturas Híbridas, recebeu o prêmio Book Award, concedido pelo Latin American Studies Association, por ter sido considerado o livro do ano em 2002 sobre a América Latina.

Alguns livros em espanhol
·         Arte popular y sociedad en América Latina, Grijalbo, México, 1977
·         La producción simbólica. Teoría y método en sociología del arte, Siglo XXI, México, 1979
·         Las culturas populares en el capitalismo, Nueva Imagen, México, 1982
·         ¿De qué estamos hablando cuando hablamos de lo popular?, CLAEH, Montevidéu, 1986
·         Cultura transnacional y culturas populares (ed. con R. Roncagliolo), Ipal, Lima, 1988
·         Culturas híbridas. Estrategias para entrar y salir de la modernidad, Grijalbo, México, 1990
·         Cultura y Comunicación: entre lo global y lo local, Ediciones de Periodismo y Comunicación.
·         Las industrias culturales en la integración latinoamericana
·         La globalización imaginada, Paidós, Barcelona, 1999
·         Latinoamericanos buscando lugar en este siglo, Paidós, Buenos Aires, 2002
·         Lectores, espectadores e internautas, Gedisa, Barcelona, 2007

Títulos traduzidos para o português e lançados no Brasil
·         Culturas Híbridas: Estratégias para Entrar e Sair da Modernidade19902
·         Consumidores e cidadãos19951 2
·         Leitores, espectadores e internauta2008,1 Ed. Iluminuras, São Paulo
·         Diferentes, desiguais e desconectados, 2005, Ed. UFRJ, Rio de Janeiro
·         A globalização imaginada, (2003), Ed. Iluminuras, São Paulo
·         As Culturas Populares no Capitalismo,(1983), Ed. Brasiliense


Tema
 As narrativas mais recentes sobre “cultura” e identidade.
Problema
A inexistência de um conceito de cultura que dê conta de abarcar todos os processos do mundo global corrente, que contenha em si toda a multiplicidade identitária dos tempos pós-modernos e que  seja representativo do pensamento de todas as ciências.
Idéia principal
            Uma possível definição operacional, compartilhada por várias disciplinas ou por autores que pertencem a diferentes disciplinas acerca do que seja “cultura”.
Estrutura do texto
Introdução ao Capítulo 1: introduz o capítulo 1 expondo algumas das primeiras definições de “cultura”; comunica que é importante compreender como se foi chegando, nas ciências sociais, a certo consenso em torno de uma definição sociossemiótica da cultura e quais problemas colocam a este consenso as condições multiculturais em que este objeto de estudo varia. Em seguida, anuncia que irá se ocupar das redefinições operadas por jornalismo, mercados e governos pois essas noções, por terem eficácia social, devem fazer parte daquilo que é preciso investigar.
1ª parte: de uma perspectiva antropológica e apoiado em diversos teóricos, explana sobre  as duas principais narrativas existentes quanto ao que seja “cultura” e dos “labirintos do sentido”, ou seja, da multiplicidade de ideias daí advindas.
2ª parte: discorre sobre  as quatro vertentes contemporâneas que destacam diversos aspectos da perspectiva processual, a qual considera, ao mesmo tempo o sociomaterial e o significante da cultura. Não são paradigmas. São formas com as quais se narra o que acontece com a cultura na sociedade -o que implica em estar diante de conflitos nos modos de conhecer a vida social.
3ª parte: O autor propõe pensar a cultura não como substantivo, mas sim como o adjetivo cultural. Já que não faz mais sentido imaginar a cultura como um bem, propriedade de uma nação, faz sentido imaginar a cultura como, justamente, a qualidade desse sistema de significações próprios de um povo. E com esta visão, valoriza-se justamente a relação intercultural, como as diferenças  de  dois  ambientes  diferentes  dialogam  entre  si,  entre  outras  palavras,  a interculturalidade.
Autores com os quais dialoga:
LASKY, Melvin J.
Canclini faz crítica à Lasky (pág. 29 e 30) pois o último fala do “zumbido ensurdecedor”  produzido pela proliferação dos significados acerca do termo “cultura”. Lasky responsabiliza os marxistas (por terem começado a falar de “cultura capital”) e os antropólogos por terem utilizado a palavra a partir do próprio título do livro de Sir. Edward Tylor “Culturas Primitivas”. Lasky dizia que “Por definição, a cultura não poderia ser primitiva” (2003, p. 369)
Filósofos alemães: Herbert Spencer,Wilhelm Windelband, Heinrich Rickert (final séc XIX e início do séc XX).
Menciona, apenas ilustrativamente, deles a primeira noção, mais óbvia, da cultura como sendo o “acúmulo de conhecimentos e aptidões intelectuais e estéticas” (pág. 31)  e de Rickert, em particular, a distinção que o mesmo fazia entre cultura e civilização. Elegantemente faz coro “às muitas críticas que os estudiosos costumam fazer “a esta distinção taxativa entre civilização e cultura”. (pág. 31)
BORDIEU, Pierre.
Menciona Bordieu que opõe cultura e sociedade (pág. 39)
BAUDRILLARD, Jean.
Retoma apenas ilustrativamente BAUDRILLARD e seus “quatro tipos de valor na sociedade: uso, troca, signo e símbolo” (pag. 40)
HOBSBAWN,  
Quando CANCLINI menciona que as interações (das pessoas estrangeiras morando em outro lugar) têm efeitos conceituais sobre as noções de cultura e identidade, menciona HOBSBAWN como sendo o criador da ideia de identidade coletiva como sendo “mais camisa do que pele” e já aproveita para ironizá-lo dizendo que é preciso lembrar das inúmeras condutas racistas que ontologizavam na pele as diferenças de identidade  e diz que, “seria útil completar a metáfora de Hobsbawn com um análise dos variados tamanhos de camisa”. (pág. 45)
APPADURAI, Arjun
Concorda com APPADURAI que considera a cultura não como um substantivo, mas como adjetivo.
ORTNER e
GEERTZ
Concorda com ORTNER (1999, p.7) e GEERTZ que falam do “cultural” como o choque de significados nas fronteiras...” (Pág. 48) ao invés de “cultura”.
GRIMSON, Alejandro
Concorda com GRIMSON que, na leitura do conceito acima, sublinha que esta concepção do cultural como algo que sucede em zonas de conflito situa-o como processo político: refere-se aos “modos específicos pelos quais os atores se enfrentam, se aliam ou negociam” (Grimson, 2003, p. 71) – PÀG. 48.
PRICE,
Concorda com PRICE quando este argumenta sobre “arte primitiva” e diz que tal como “os africanos capturados e deportados para países distantes na época do comércio de escravos”, os objetos de “outras” sociedades foram “apreendidos, transformados em mercadoria, esvaziados da sua significação social, recolocados em novos contextos e reconceituados para responder a necessidades econômicas, culturais, políticas e ideológicas dos membros das sociedades distantes.” (ibid, p.22) = PÀG. 50.

Idéias principais.
Introdução ao Capítulo 1
           Inicialmente cita que em 1952 dois antropólogos pesquisaram mais de 300 formas de definições; em 2001 outro antropólogo reuniu mais 57 usos distintos do termo cultura que pesquisou em jornais alemães, ingleses e estadunidenses. [35]
Fala da tentativa de encontrar uma definição para o termo “cultura” que traduza, por consenso, o pensamento de todos os estudiosos.

1. Labirintos do sentido.
O autor cita que não se deve abandonar a aspiração acima, no entanto, “o relativismo epistemológico e o pensamento pós-moderno debilitaram, por caminhos distintos, aquela preocupação com a unicidade e a universalidade do conhecimento. A própria pluralidade de culturas contribui para a diversidade de paradigmas científicos, ao condicionar a produção do saber e apresentar objetos de conhecimento com configurações muito variadas.” (pág. 36)
Diante de uma variedade de disciplinas e definições de cultura, falando de uma perspectiva antropológica, Canclini resolve adotar a postura de debruçar-se com atenção e “escutar” todos os processos sociais. Assim sendo, ao invés de apresentar novos conceitos de cultura, apresenta a principais “narrativas” quando se fala de cultura nos dias hoje: (pág. 36)
a)    A noção cotidiana de cultura como sendo o acúmulo de conhecimentos e aptidões intelectuais e estéticas. (pág. 37)
O autor sublinha que a definição supra tem sustentação na filosofia idealista e supõe a distinção entre cultura e civilização, elaboradas pelos filósofos alemães no final do século XIX e início do século XX (Spencer, Windelband e Rickert).
Cita que entre as muitas criticas que se podem fazer a esta distinção taxativa entre civilização e cultura, “uma é que naturaliza a divisão entre o corporal e o mental, entre o material e o espiritual, e, portanto, a divisão do trabalho entre as classes e os grupos sociais que se dedicam a uma ou a outra dimensão.” (Pág. 37)
Afirma que essa narrativa, “naturaliza, igualmente, um conjunto de conhecimentos e gostos que seriam os únicos que valeria a pena difundir, formados numa história particular, a do Ocidente moderno, concentrada na ára europeia ou euro-norte-americana. Não sendo, pois, uma característica pertinente da cultura, no estado dos conhecimentos sobre a integração de corpo e mente, nem de uso apropriado depois da desconstrução do eurocentrismo operada pela antropologia.” (Pág. 37)
b)    Frente aos usos cotidianos acima, vulgares ou idealistas de cultura, surge um conjunto de usos científicos, que se caracterizaram por separar a cultura em oposição a outros referentes. Os dois confrontos principais a que se submete o termo são natureza-cultura e sociedade-cultura. (Pág 37)
Dois requisitos a considerar para se construir uma noção cientificamente aceitável de “cultura” (antes de comentar-se os dois confrontos acima):
1)    Uma definição unívoca, que situe o termo cultura num sitema teórico determinado e o liberte das conotações equívocas da linguagem comum;
2)    Um protocolo de observação rigoroso, que remeta ao conjunto de fatos, de processos sociais, nos quais o cultural possa registrar-se de modo sistemático.
A oposição cultura-natureza: durante um tempo acreditou-se que essa oposição permitia fazer essa delimitação. Parecia que, deste modo,  se diferenciava a cultura, aquilo criado pelo homem e por todos os homens, do simplesmente dado, do “natural” que existe no mundo. No entanto, esse campo de aplicação da cultura por oposição à natureza, mesmo depois de muitas pesquisas, não parece claramente especificado. Não se sabe por que ou de que modo a cultura pode abarcar todas as instâncias de uma formação social, ou seja, os modelos e organizações econômica, as formas de exercer o poder, as práticas religiosas, artísticas e outras. (Pág. 38)
A oposição cultura e sociedade: a sociedade é concebida como o conjunto de estruturas mais ou menos objetivas que organizam a distribuição dos meios de produção e do poder entre os indivíduos dos grupos sociais, e que determinam as práticas sociais, econômicas e políticas. No entanto essa oposição deixava de considerar uma série de atos que nada tem haver com poder ou economia, tais como: Porque homens e mulheres pintam a peoe, das sociedades mais arcaixas até a atualidade? Porque as pessoas enfeitam o corpo dependurando coisas nele?
É preciso considerar que o desenvolvimento do consumo evidenciou esses “resíduos” ou “excedentes” na vida social. Tanto assim é que, Jean Baudrillard, explica melhor esta oposição em sua  Crítica da economia política do signo (Canclini, p.40) ao estabelecer quatro tipos de valor na sociedade. Exemplo: O que é uma geladeira? Para que serve uma geladeira?
a.    Valor de uso: uma geladeira é um aparelho doméstico, serve para manter temperatura de alimentos, remédios ou qualquer outro objeto;
b.    Valor de troca: a geladeira é uma mercadoria, que demorou um certo tempo e recursos para ser produzida, e vale algo em dinheiro;
c.    Baudrillard e o "valor signo": geladeira é um conjunto de conotações, de implicações simbólicas. É "nacional" ou não, de marca etc;
d.    Baudrillard e o "valor símbolo": geladeira da minha vó, por ser da minha vó, não pode ser trocada. "Não tem preço", diz o comercial de tv.
Esta classificação permite diferenciar o socioeconômico do cultural. Os dois primeiros tipos de valor têm a ver, principalmente, mas não unicamente, com a materialidade do objeto, com a base material da vida social; os dois últimos tipos de valore referem-se à cultura, aos processos de significação. (Pág. 41)
Pierre Bourdieu, desenvolveu esta diferença entre cultura e sociedade ao mostrar que a mesma se assenta em dois tipos de relações: as de força (usos e trocas) e, dentro delas, entrelaçadas com estas relações de forças, há relações de sentidos, que organizam a vida social, as relações de significação. O mundo das significações, do sentido constitui a cultura.
Finalmente, chega-se assim, a uma possível definição operacional, compartilhada por várias disciplinas ou por autores que pertencem a diferente disciplinas Pode-se afirmar que a cultura abarca o conjunto dos processos sociais de significação ou, de um modo mais complexo, a cultura abarca o conjunto de processos sociais de produção, circulação e consumo da significação na vida social.
2.    Identidade: camisa e pele
Portanto, ao conceituar cultura destemodo equivale a dizer que ela apresenta-se como processos sociais, e parte da dificuldade de falar dela deriva do fato de que se produz, circula e se consome na história social. Não é algo que apareça sempre da mesma maneira. Daí a importância dos estudos sobre recepção e apropriação de bens e mensagens nas sociedades contemporâneas. Mostram como um mesmo objeto pode transformar-se  através de usos e reapropriações sociais. E também como, ao nos relacionarmos uns com os outros, aprendemos a ser interculturais. (Pág. 42)
Exemplo: o artesanato produzido pelos índios mexicanos que é comprado por setores urbanos e, deslocado de sua função primeira, vai decorar as paredes (ser ressignificado) de quem o comprou.
Ao prestar atenção nos deslocamentos de função e significado dos objetos, no trânsito de uma cultura para outra, chega-se à necessidade de contar com uma definição sociossemiótica da cultura, que abarque o processo de produção, circulação e consumo de significações na vida social.
Configuram essa perspectiva várias tendências, vários modos de definir ou sublinhar aspectos particulares da função social e do sentido que a cultura adquire dentro da sociedade.
Canclini passa a considerar quatro vertentes contemporâneas que destacam diversos aspectos dessa perspectiva processual, a qual considera, ao mesmo tempok o sociomaterial e o significante da cultura.
1ª. Tendência: é a que vê a cultura como a instância em que cada grupo organiza sua identidade;
2ª. Tendência: a cultura é vista como uma instância simbólica da produção e reprodução da sociedade. Apoia-se na Teoria da Ideologia de Louis Althusser, quando diz que a sociedade se reproduz através da ideologia e nos estudos de Pierre Bourdieu sobre a cultura como espaço de reprodução social e organização das diferenças.
3ª. Tendência: fala da cultura como uma instância de conformação do consenso e da hegemonia, ou seja, de configuração da cultura política e também da legitimidade.
4ª. Tendência: é a que fala da cultura como dramatização eufemizada dos conflitos sociais como dramatização simbólica do que está nos acontecedo. Por isso temos teatro, artes plásticas, cinema, canções e esporte.

3.    Substantivo ou Adjetivo ?
Uma  interpretação  muito  interessante  e  válida  pra  o  entendimento  consta  em
pensar a cultura não como substantivo, mas sim como o adjetivo cultural. Já que não faz
mais sentido imaginar a cultura como um bem propriedade de uma nação, faz sentido
imaginar a cultura como justamente a qualidade desse sistema de significa ções próprios
de um povo. E com esta visão, valoriza-se justamente a relação intercultural, como as
diferenças  de  dois  ambientes  diferentes  dialogam  entre  si,  entre  outras  palavras,  a
interculturalidade.

A  concepção de  GarcÌa  Canclini  com  relação às  identidades  culturais,  vem,  eminentemente,  através  de sua  concepção  de  hibridismo  cultural  convertida  em  modelo  explicativo  da  identidades (ESCOSTEGUY, 2001 p.171). Esta perspectiva  faz parte de outras discussões presentes na obra  do  autor,  entre  elas  a  discussão  da  possibilidade,  ou  não  de  uma  identidade  cultural comum  aos  povos  da  América  Latina.  A  partir  desta  perspectiva,  Garcia  Canclini,  a  partir de  “Diferentes,  Desiguais  e  Desconectados  (2006),  sua  mais  recente  obra,  propicia a compreensão  não  de  uma  identidade  cultural,  mas  de  um  espaço  sociocultural  latinoamericano onde estão inseridas as diversas identidades culturais.

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